



























Este casamento não foi apenas testemunhado — foi publicado pela Jules et Moi, a principal referência de casamentos em França. A Jules et Moi não é apenas mais um blogue; é uma verdadeira instituição, uma autoridade cultural na cena nupcial francesa, onde a moda, a arte e o amor se cruzam. Ser destacado ali é um reconhecimento ao mais alto nível — um selo de confiança e estilo que ultrapassa fronteiras.
O que se vemos aqui é a história sem filtros de Anastasia & David, contada não como um evento, mas como cinema, memória e eletricidade.
Podias chamar-lhe um casamento, mas isso seria demasiado limpo, demasiado estéril, demasiado “Pinterest-perfeito” para o que realmente aconteceu. O que testemunhei em Lagos, no topo de uma falésia que se lançava na boca faminta do Atlântico, foi algo mais próximo do cinema. Dois dias de amor transformados em arte performativa, costurados com champanhe, o som das obturações das Leicas, o sal do ar e a tensão crepitante de um mundo em guerra.
Anastasia — ucraniana, radiante, teimosamente viva numa cidade onde as sirenes ditam o ritmo do quotidiano. David — filho de emigrantes ucranianos, criado nas estradas americanas, que trocou o conforto e a conveniência por Kiev, levando apenas o amor, a coragem e a convicção de que não se foge do fogo quando o coração está lá dentro. Juntos, são um paradoxo cosmopolita: modernos e elegantes, mas com a crueza de quem ainda traz no corpo o cheiro dos abrigos subterrâneos onde esperam o silêncio entre os bombardeamentos.
O casamento deles não teve nada a ver com simetrias nem centros de mesa florais. O primeiro dia desenrolou-se numa villa privada, suspensa sobre a falésia como um delírio mediterrânico. Imagina paredes de vidro, ventos atlânticos indomáveis, e um espaço a vibrar com uma contenção artística quase sagrada. Sem kitsch. Sem vómito pastel. Apenas linhas, sombras e a eletricidade de um casal que entende a diferença entre uma fotografia e uma imagem que respira.
No segundo dia mergulhámos diretamente no mito. O Arco de Albandeira — arco de pedra esculpido por séculos de fúria oceânica — transformou-se numa catedral sem bancos. O sal do mar substituiu o incenso. E ali ficaram — amantes entre a alta-costura e o caos — emoldurados por um horizonte brutal que engolia o céu.
Não fotografo casamentos como um serviço; fotografo-os como parte de um arquivo maior, o tipo de arquivo que sobrevive aos próprios casais. A minha formação em moda e publicidade ensinou-me o controlo, mas aprendi a queimar buracos nesse controlo com fugas de luz, com sombras que se recusam a obedecer, com câmaras analógicas que cospem grão e imperfeição como se fosse poesia. As minhas Leicas são extensões dos meus pulmões — cada fotografia é uma inspiração/expiração, um grito/silêncio, um sim/não. Persigo o chiaroscuro. Afogo-me no grão. Não me interessam imagens bonitas; interessam-me cicatrizes que se tornam belas sob a luz certa.
Não é adoçada. Não é o material das revistas de casamentos com noivas de capa e sorrisos de catálogo. É mais como a Vogue a colidir com Vivienne Westwood num clube cheio de fumo. É Nadia Lee Cohen a sussurrar no laboratório. É punk vestido de romance — ou talvez romance despido até ficar só com os ossos punk.
Tinha de ser assim. A história deles não é um aperto de mão educado; é um murro no destino. E quando se vive sob bombardeamentos e ainda assim se escolhe casar numa falésia em Portugal, não se merecem clichés. Merecem grão. Merecem sombras. Merecem uma imagem que uive de volta à tempestade.